segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Nossos infinitos gerúndios




Você diz que ainda é cedo pra pensar em nós dois. Eu digo que já são onze, mas você insiste que não é hora. Nunca é, aliás. Nunca foi. 

Odeio sua mania insensata e imatura de fugir dos problemas de verdade. Odeio seu silêncio externo que acaba comigo por dentro, na alma, por inteira.

Somos reticências. Somos vírgulas. Somos até ponto e vírgula. Você insiste em prolongar, em apagar o nosso possível ponto final.

E sabe-se lá porquê. Sabe-se lá pra que. 

Não entendo a complexidade do que somos e a infinidade de sentimentos que sentimentos, que vivemos e que compartilhamos.

Eu amando, você amando, você errando, eu falhando...

Somos um gerúndio sem fim.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Inconstância




Você se afasta desenfreadamente dirigindo sem olhar pra trás. Sua percepção inigualável te fez parar sem bater na porta. A inconstância do que somos te assusta e te fere a alma, como um tombo que faz sangrar as feridas profundas que já haviam cicatrizado.

Sou seu tombo. Seu tropeço. Seu começo, meio sem fim.

Você foge de mim e da minha loucura de sentir demais. Você corre do meu sentimento exagerado, você deixa minhas lágrimas molharem o chão, você quer nadar no meu rio interno e se deliciar ouvindo o som da minha gargalhada. Mas você não quer estar aqui.

Você vai embora simplesmente porque ficar seria insuportável demais. Incompleta incerteza.

Você foge porque ficar seria desconexo demais. Seria terrível demais. Seria perigoso demais conviver com minha loucura interna de amar.

Prefere ir embora. Voar com minhas borboletas estomacais para um continente inatingível. Prefere me trancar em uma sala clara enquanto choro e rio em questão de segundos. Minha inconstância te fere, te machuca, te assusta, te confunde todo.

Os sentimentos são passageiros. Vivemos a modernidade caótica do amor insensato, imaturo, inconstante. Eu sou uma exceção.

E nosso amor quieto, calado e tranquilo parece ser errado demais para o que sou. Para o que somos, ou para o deveríamos ser.

Você vai embora porque agora não tô pra você. Não tô pra ninguém. Não tô pra conversa, nem pro amor.  Mas você sabe, que depois, mais tarde ou amanhã talvez, eu estarei aqui, esperando por você. Exatamente como antes. Exatamente como deveria ser.

Exatamente como não sou. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A porta e o silêncio


Quando olhou para os lados, não sabia o que fazer. Não tinha ideia de onde estava. A nostalgia serena de uma noite de névoa vinha lhe fazer fazer companhia, e estava rodeada de folhas escritas com letras minuciosamente perfeccionistas. Não se lembrava de mais nada. A água corria agora por seu corpo e sua cabeça latejava fortemente. Quem era ela? Ideias desconexas surgiam em sua mente como relâmpagos em uma noite de forte chuva, iluminando rapidamente. Chuva. Rapidez. Cartas. Porta. Tinha uma porta no meio disso tudo. Qual era o contexto disso tudo? Onde ela estava e quem havia se tornado? Por que tudo aquilo não saí dela logo.

Ela se lavava, a água caía e aquela sujeira abstrata de um sentimento mal resolvido permanecia impregnado em seu coração surrado, quebrado e ingênuo. Sentia água salgada na boca. As lágrimas que tanto segurou se atreviam a descer, misturando com a água gelada que caía sobre seu corpo , na esperança de lavar a vida, de levar a vida com leveza.

Era tão tênue a linha que separava a dor do amor. Ela se lembrava agora. Tudo aconteceu depois daquela porta. Uma porta marrom escura com decorações laterais. O que aquilo representava? O que havia acontecido depois da porta, ou antes, ou dentro?

O telefone tocava. Os carros buzinavam. As pessoas viviam em um ritmo freneticamente normal do lado de fora. Daquele lado, a vida acontecia.

Talvez a porta que aparecia no seu inconsciente fosse o mundo. Fosse a entrada. Ou a saída. Talvez fosse a porta que separava-a da realidade tortuosa.

Lágrimas rolavam e desciam e caiam pelo chão. Esconder sentimentos era fútil, inútil, desnecessário. O vento entrava pela janela refrescando e fazendo-lhe tremer. O choro silencioso denunciava a dor de um amor mal entendido, mal acabado. A suprema beleza do amor se encontrava nas poesias. E as poesias, jogadas na sala em folhas escritas com letras perfeccionistas, lhe contavam a história de seu próprio coração, que gritando desabafava em palavras sem sentido e com sentimento.

Uma porta fechada na cara. Um adeus que nem foi dito. Um telefone não retornado.

Ela se lembrava. Se recusava a enxergar o fim do sentimento, do amor, da ligação, do laço afetivo que mais parecia um nó eterno e impossível de se soltar. Será que só ela estava amarrada e enroscada nessa relação? Nessa ação?

Ela chorava, sem dizer nada.

O silêncio na verdade, só é mudo do lado de dentro.